Fonte: Ismael Bravo*
O título busca parafrasear
o escritor que tanto estudou a cultura brasileira e que esteve solto no tempo e
nos cartazes que o enalteciam com a frase “O Brasil não tem problemas, só soluções adiadas”, atribuída ao maior historiador e pesquisador
que o Rio Grande do Norte teve, e que o Brasil ainda está por conhecer a miúde,
Luís da Câmara Cascudo, filósofo, escritor, jornalista, professor e amante da
cultura popular. Em busca de conhecer o povo brasileiro, Câmara Cascudo dizia: "Queria saber a história
de todas as cousas do campo e da cidade. Convivência dos humildes, sábios,
analfabetos, sabedores dos segredos do Mar, das Estrelas, dos morros
silenciosos...”
Por conhecer a alma e a
forma de como a sociedade se organizava, Câmara Cascudo contribuiu para
entendermos o que se passa hoje, em pleno século XXI, sobre as observações
feitas no velho sertão lá pelos idos de 1910, em que a questão
educacional não formal tinha um forte apelo à realidade posta e pela situação
imposta ao isolamento de algumas comunidades, por outro lado, nas capitais as influencias
fortes vinham da Europa. Essa caracterização mostra a preocupação com a universalização,
vinda do além-fronteiras, em que todos usam os mesmos métodos independentes da
realidade local, sem levar em consideração a contextualização da sociedade em
seu território.
Ao longo do século XX tivemos a oportunidade de
vivenciar o afloramento da leitura social do povo brasileiro nas ciências
sociais, aplicadas, humanas e outras áreas do conhecimento, desenvolvidas por nossos
grandes pensadores, porém, não foram incorporadas ao modelo atual de educação
que permeia as intenções governamentais, por questões inúmeras, que não cabe
aqui discorrer, talvez ideológica, quem sabe.
Há quem julgue que as intenções governamentais
estão intimamente ligadas à necessidade do país em acelerar e ganhar em grande escala
de desenvolvimento, firmando-se no cenário internacional ao mostrar e
demonstrar sua força econômica. Outros mais singelos defendem estar
naturalmente na globalização o provocar pela busca de modelos educacionais. Ou,
será um pouco de cada?
Mesmo com toda a base teórica e prática necessária
para realizar uma educação de qualidade, não podemos perder de vista o conceito
de Glocalização, ou seja, de ser global sem perder as características locais. Assim sendo, há de se evidenciar que os
fenômenos globais não devam ser o fato que venha a justificar a falta de disseminação
e adoção dos métodos e metodologias educacionais de sucesso desenvolvidas e
aplicadas no Brasil, adiando o desenvolvimento da educação com bases na
realidade nacional.
O ser global é tão forte e presente em nosso dia a
dia, que não se pode negar, faz parte das características humanas o intercâmbio
de conhecimento, nos tempos atuais mais ainda, com o acesso em tempo real dos
desenvolvimentos de grupos de pesquisa ao redor do mundo.
Constamos que isso é verdade, pois hoje há
programas de governo enviando nossos filhos ao redor do mundo na busca de novos
conhecimentos, medida louvável, desde que por traz dessa ação tenha um projeto
de estado que dê guarida para que esse investimento social seja incorporado a
nossa realidade. Há de se ter, porém, o devido cuidado em não repetir os
senhorios quando enviavam seus rebentos para estudo na Europa como forma de
evidenciar as referências e posicionamento social, muitas vezes inócuo ao
desenvolvimento do país.
À parte a tudo isso e tão importante quanto,
devemos ressaltar que de forma heterogênea já existe educação de qualidade no
país, constada pelos indicadores educacionais e histórico exigido que define a
presença desses nossos alunos no exterior, cuja educação básica lhes proporcionaram embasamento
para realizar seus estudos.
Deparamos com a evidência de que os caminhos para
equacionar a educação básica são fortes o suficiente para transformar a
realidade do país. Eureca, então temos o formato e modo de como mudar os
resultado educacionais obtidos internamente como foco e modelo a ser seguido
derivado da fundamentação e dos trabalhos de nossos profissionais da educação e
que deveriam estar sendo disseminados em todo território nacional, certo?
Então Câmara Cascudo esteve sempre com razão, nos não temos problema, só soluções adiadas,
haja vista que nosso patrono, Mestre Paulo Freire dizia, “têm-se todas as metodologias necessárias, é preciso coloca-las em
prática”.
(*) Doutor em Educação,
professor, pesquisador, assessor e consultor em políticas de educação e
sistemas educativos.