Política pública em educação deve priorizar relação entre professor e aluno

“A política pública em educação se efetiva na sala de aula, na relação entre o professor e o aluno. É para a qualificação desta relação que devem ser canalizados prioritariamente os recursos na área da educação. A valorização do professor acontecerá, quando a sociedade brasileira tiver consciência de fato dessa prioridade da política pública educacional”. As afirmações são de Ismael Bravo, consultor em políticas de educação e sistemas educativos no setor público e privado, diretor da Campos & Bravo Soluções Organizacionais. É Doutor e Mestre pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sendo pesquisador convidado do Laboratório de Gestão Educacional (LAGE) da Faculdade de Educação da mesma instituição. É Consultor Avaliador do Conselho Estadual da Educação de São Paulo e membro do Comitê Deliberativo do Observatório da Educação, do Compromisso Campinas pela Educação (CCE). Nesta entrevista, Ismael Bravo comenta os desafios relacionados à Valorização do Professor, bandeira de 2014 do CCE. Para o especialista, a valorização acontecerá no contexto da própria valorização da Educação no país, e em função de políticas públicas muito bem construídas, debatidas e focadas naquilo que considera prioritário, a relação entre professor e aluno, na sala de aula. CCE – Como o senhor situa o tema da valorização do professor no cenário brasileiro? Ismael Bravo - A valorização do professor acontecerá no contexto de uma profunda mudança nos paradigmas sobre a Educação no Brasil, da forma como ela vem sendo visualizada pela sociedade. A política pública em educação se efetiva na sala de aula, na relação entre o professor e o aluno. É para a qualificação desta relação que devem ser canalizados prioritariamente os recursos na área da educação. A valorização do professor acontecerá, quando a sociedade brasileira tiver consciência de fato dessa prioridade da política pública educacional. CCE - E na sua opinião isso não vem ocorrendo? Ismael Bravo - Não da forma ideal, por vários fatores. A família, por exemplo, está afastada do processo educacional. Ela delegou para a escola quase toda a educação não-formal. E as próprias diretrizes curriculares oficiais vêm reforçando isso, ao indicar conteúdos e disciplinas sobre temas importantes, mas que originalmente deveriam ser da atribuição da família e da sociedade em geral. Na realidade, temos uma escola com ferramentas antiquadas para o exercício da relação mais importante, entre o professor e o aluno. Estamos com uma escola concebida no século 19, com professores formados com a visão do século 20 para um aluno do século 21. Neste cenário não acontece a valorização do professor. CCE - Qual seria uma saída para esse impasse? Ismael Bravo - Em algumas comunidades já estão acontecendo experiências importantes, no sentido de organização e união de esforços para que a vida do aluno melhore. Isso geralmente significa que o professor passa a trabalhar em um ambiente mais feliz, mais tranquilo, dando mais sentido a sua ação. A comunidade toda passa a cuidar das dificuldades psíquicas, familiares, sociais do aluno, e com isso ajuda no processo de aprendizado. O professor fica tranquilo para o exercício de sua profissão, para o cumprimento de sua principal tarefa. Enfim, quando a sociedade se organiza no entorno da escola, o aprendizado acontece da melhor forma, com maior valorização do professor. CCE - Como deve ser essa organização, em um país com tanta diversidade como o nosso? Ismael Bravo - Não existe uma fórmula mágica. Cada escola, cada comunidade deve procurar o seu caminho, considerando o seu espaço social. O importante é a disposição de quebrar os muros da escola, e da escola ouvir a sociedade, trazendo a comunidade para participar de todo o processo de aprendizagem. E um ponto muito importante: a valorização do professor acontece, quando também ocorre a valorização dos outros profissionais da escola que igualmente afetam diretamente o processo de aprendizagem. O professor tem um papel fundamental, mas também existem outros profissionais que contribuem, dentro da escola, para que a relação entre professor e aluno ocorra da melhor forma. É preciso ter esse cuidado, olhar para estes outros profissionais. http://www.compromissocampinas.org.br/politica-publica-em-educacao-deve-priorizar-relacao-entre-professor-e-aluno/