quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Refazer a educação a partir das necessidades do aluno - Ismael Bravo*

Parece óbvio mas não é... Existimos enquanto profissionais da educação por que na escola tem aluno, caso contrário, não existiríamos.  Portanto, pensar a organização da educação é imergir no cotidiano escolar.
O que ocorre hoje é que inúmeros personagens acadêmicos, midiáticos e os tidos gurus da educação propõem soluções idealizadas para outra época sobre a égide de outros fundamentos que não os atuais nas escolas, portanto, sem sustentação. Essa visão é o que permeia pelas Secretarias da Educação e no Ministério da Educação, em que esses personagens influenciam a estrutura organizacional das escolas no país.
Enquanto a lógica da política pública da educação deva ser estabelecida a partir das necessidades educacionais da sociedade que a demanda, só será efetivada no ato de ensinar na sala de aula por meio da relação professor-aluno. Portanto, é na estrutura organizacional escolar que encontramos alguns dos atores mais importantes do processo educacional: alunos, profissionais da educação e pais-responsáveis, ou seja, a Sociedade e a Escola. No encontro desses atores nos dias de hoje, observa-se um destoar de interesse entre eles, que a organização escola sente dificuldades em equacionar.
A sociedade, representada pelos pais e/ou responsáveis dos alunos, busca acesso pleno a educação em todos os níveis e modalidades e com qualidade intangível, pois não têm clareza do que espera receber, cabendo a escola definir a qualidade da educação a partir do entendimento de que sociedade é essa contada por ela e não pelos muitos achismos encontrados hoje.
Obter o perfil socioeconômico da família do aluno é fundamental, ao início de todo ano letivo e de preferência no ato da matrícula ou rematrícula, cujas informações contribuem para as várias ferramentas do dia a dia da escola: Projeto Pedagógico (Plano de Ensino e de Aula), Plano de Gestão e Regimento Interno. É de bom senso aproveitar o momento para colher detalhes fisiológicos dos alunos e se houver condutas específicas como está o acompanhamento, além do cotidiano da sua vida de cidadão.
Ao entrar nos meandros da escola encontramos uma organização que passa a existir quando os órgãos vivos que a compõem entram em cena, os profissionais da educação, aqui representados pelos colaboradores docentes e não-docentes, que fazem as atividades meio e fim acontecer. Estes têm que estar preparados para desvelar e implantar a forma de efetivar o processo educacional que responda a demanda e exigências da sociedade em que estão inseridos, identificadas no estabelecer do seu perfil.
Esse forma de gerir pode significar para muitos, algo já realizado e resolvido no dia a dia da escola e até abandono de fazer uso do perfil por não sentir significância. Ledo engano... A partir das constatações de que sociedade é essa, a escola tem em mãos quais as habilidades e competências que os profissionais de educação precisam para desempenhar suas funções, que venha a colocar em prática o nível de qualidade que está na expectativa da coletividade atendida.
Então, qual a formação necessária para esses profissionais?
Para o profissional não-docente é preciso um plano de carreira que foque as necessidades dos processos educacionais, o perfil deverá ser evidenciado no ato de sua contratação, ficando claro que profissional a escola precisa. Subindo na escala hierárquica até o grupo gestor ou equipe gestora, vê-se que invariavelmente deixaram a docência para assumir a promoção da nova função, ainda sem preparo para visão de que a Organização Escola não é uma grande sala de aula, e que dependerá de conhecimento de outras ciências, pois a pedagogia não dá conta de explicar o que não se trata do processo de ensino-aprendizado. Entretanto o preparo do profissional gestor chega de forma generalista sem contextualizar a realidade e as adversidade da escola.
O beber na fonte de outras ciências para entender os processos no dia a dia na escola, como forma de potencializar as habilidades e competências dos profissionais ali presentes, é fundamental, pois aponta o que deve ser buscado em suas formações. Vamos lá: administração, contábeis, gestão de pessoas, economia, geografia, demografia, sociologia, antropologia... só algumas para dar conta dos processos e atividade meio que se apresentam hoje. Ficando estabelecido os conhecimentos que devem ser exigidos nos cursos de extensão, aperfeiçoamento e nas pós lato e stricto senso.
Passando ao profissional docente, o agente da efetivação da política pública e responsável pelo ensino-aprendizado, vamos nos deparar com uma situação problemática e não equacionada nas formações de licenciados no Brasil. As Instituições Ensino Superior na formação de professores não estão os habilitando para o perfil de egresso que dê conta das necessidades educacionais da educação básica, neste caso, haja vista que não é de praxe realizar pesquisar junto aos gestores das Secretarias de Educação, para identificar as habilidades e competências necessárias ao desempenho da atividade docente.
Da mesmo forma que a educação carece de um currículo para educação básica, a formação dos docentes passa por essa mesma situação. O reformular a formação do docente que dê conta das diversidades impostas pelo modo como a sociedade vem se delineando, tem mostrado que além das ciências apontadas, outras que avançaram no entendimento fisiológico do ser humano devem ser evidenciadas, como a neurociência no cognitivo e a psiquiatria...
Há de se considerar conceitos científicos atualizados na formação do professor que o permita conhecer melhor a criança e ao adolescente. Saber que apesar dos seus pouco anos de vida a criança mesmo analfabeta funcional não o é tecnologicamente, pois já nascem chipadas. E o que dizer do aluno adulto com o conhecimento já adquirido pela vida? Só a Andragogia pode apontar os cuidados metodológicos e diferenciados que a modalidade requer.
O perfil do profissional docente, extraído a partir da miscigenação social que fundiu e funde a nossa sociedade dentro desse amalgama plural que vamos buscar a forma de habilita-lo no trabalhar com indivíduos díspares em uma mesma sala de aula. Situação já vivenciada pelo professor da escola rural típica, com uma só sala de aula multisseriada que dava conta da diversidade, mas que se perdeu com o passar dos anos ao pensar a educação para educando tipo ideal.
Pois bem, pensar que na forma como estão estruturados o Ministério da Educação e as Secretarias de Educação e que esses possam fazer a transformação que venha de encontro às mudanças sociais sentidas pelas escolas no estabelecer do perfil, está distante de acontecer sem que passe pela reformulação da academia, pois sua forma de atuar é o reflexo e ressonância em círculo vicioso dentro dessas estruturas.
Os idealizadores da estrutura atual, são oriundos de um meio com autonomia e distante da realidade da sociedade, postam como formadores de pensadores e apresentam seus cursos de licenciatura e pós para docência generalista, e que de modo invariável estão a ocupar os cargos de comando no Ministério da Educação e nas Secretárias de Educação.
Isso tudo é, no mínimo, destina os agentes da política pública educacional ao infortúnio, vivendo do modelo utilizado para educação de programas de governo, desvinculado de um Plano de Estado, que ora tem e pois não se sabe se terá, aparentando por meio de maciça publicidade à sociedade um certo volume de recursos. Mal sabem que não será para todos.
Por fim, fica a disposição de que não se pode macular e ofuscar objetivo de vidas que não são nossos, segregando e estigmatizando o futuro de muitos, hoje aluno amanhã adulto desesperançado.

(*) É Doutor em Educação, professor, pesquisador, assessor e consultor em políticas de educação e sistemas educativos. 

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