Fonte: Ismael Bravo*
Nesse domingo, 07 de outubro,
fomos todos votar, bem, quase todos. Um direito cívico garantido por lei e por
ela obrigados a exercer sobre pena das suas disposições. Fazendo com que todos
os cidadãos, independente da classe social, credo, raça e cor, cumpram o dever,
que na maioria das zonas e seções eleitorais é realizado nas escolas em salas
de aula.
Para ir, ficamos adiando,
adiando, até que “Vamos lá, é obrigação”, e queremos entrar e sair num toque de
caixa. Pois, se não é nenhum midiático ou candidato a ser assediado pela
comunicação, o que fazer além de votar? Um pé lá e outro de volta pra casa.
Até aí tudo bem, mesmo por que as
pessoas que estão trabalhando, salvo raríssimas exceções, são muito educadas e
pacientes. Porém, existem situações imponderadas em que o eleitor ao chegar se
deparar com fila, com pessoas que têm dificuldades no trato com a tecnologia, que
é muito simples por sinal. Aliás, se o cidadão pertence a algumas das
classificações de analfabetismo, que inventaram para justificar a incompetência
de alfabetizar, sente-se e tenha calma, pois, pode mudar seus planos de votar
rapidamente.
O caso em questão foi de uma
senhorinha, dos seus já vividos bons anos e que, pela aparência, com certeza estaria
isenta desse ato cívico, foi ter-se com aquela máquina e ai é um tal de começa
e para, refaz, quer chamar a filha, consultar o parente... A fila a se formar e
o mesário a coçar a cabeça, levanta e senta várias vezes, disponibiliza a urna
novamente, muito gentil cumprindo a disposição legal. Embora tivesse uma baita
vontade de atender ao pedido de ajuda da senhorinha, dizia: Não posso, não pode...
E por aí a fora.
Aquele um pé lá e outro cá, foi
de água abaixo.
Aí começou a sobrar tempo para
observar o ambiente, onde os compadres e comadres de plantão colocavam a prosa
em dia, um verdadeiro ponto de encontro. Tudo sem esquecer que estávamos em uma
sala de aula escolar cuja unidade oferece o ensino fundamental, médio e suas
modalidades. Mesmo que o objeto ali não era esse, você começa a observar o espaço
físico, até por que aquele embate do mesário com a senhorinha, não se mostrava
por findar.
Um ambiente educativo degradante,
carteiras em péssimo estado de conservação, armário sem portas, lousa trincada
com textura que já não aceita mais o giz e paredes sujas. A porta então,
quebrada com o miolo interno da madeira à mostra. Sem contar o piso, e as
vidraças então, com vidros de diferentes texturas.
Fiquei a pensar, quem em sã
consciência acha que alguém teria motivação para estudar em um ambiente desses
oferecido aos jovens alunos do ensino fundamental e médio regular, adultos da
EJA e por aí a fora, nos níveis e modalidades oferecidos.
Olá Isadora Faber do Diário de
Classe, você deveria contaminar os alunos dessa escola, para saberem e defenderem
que toda escola tem que ser um brinco.
Como o mesário havia pedido para
a senhorinha ficar calma se não acabaria anulando o voto, a minha imaginação enquanto
gestor educacional começou a fluir. Fiquei a perguntar: Serão todas as salas
assim? Será uma sala isolada, daquelas reservadas para deposito? Não, a escola
esta a pedir socorro.
Os alunos, pais e responsáveis,
funcionários, direção, vivem em que mundo? Será que gostariam de ser atendido
em ambiente como esse, em um shopping, magazine, banco, e outros espaços
prestadores de serviços?
Período como esse, de eleições, é
propício para rememorar e rever nossos conceitos de espaço educacional e repensar
sobre aqueles que dizem defender a educação. Será que gostam mesmo da educação
ou dos seus recursos?
Recebi recentemente o texto “Votar” da Raquel de Queiroz publicado
pela Revista Cruzeiro, 11 de janeiro de 1947, que dizia “Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é assunto indiferente,
é questão pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos,
com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma
noiva (o)”.
Senhor, senhor, senhor... O
mesário a me chamar. Sua vez. Votei nas minhas convicções educacionais, embora,
não sei se terei surpresas.
Você que não fez essa reflexão,
por vários motivos, talvez tenha perdido uma oportunidade, mas quem for votar no
segundo turno terá essa chance novamente. Se o seu local de votação for em uma
escola, veja o seu entorno e faça reflexão. Os alunos que ainda não votam, agradecem.
(*) Doutor em Educação,
professor, pesquisador, assessor e consultor em políticas de educação e
sistemas educativos.
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