segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O VOTO NA SALA DE AULA E O CONTEXTO EDUCACIONAL


Fonte: Ismael Bravo*

Nesse domingo, 07 de outubro, fomos todos votar, bem, quase todos. Um direito cívico garantido por lei e por ela obrigados a exercer sobre pena das suas disposições. Fazendo com que todos os cidadãos, independente da classe social, credo, raça e cor, cumpram o dever, que na maioria das zonas e seções eleitorais é realizado nas escolas em salas de aula.

Para ir, ficamos adiando, adiando, até que “Vamos lá, é obrigação”, e queremos entrar e sair num toque de caixa. Pois, se não é nenhum midiático ou candidato a ser assediado pela comunicação, o que fazer além de votar? Um pé lá e outro de volta pra casa.

Até aí tudo bem, mesmo por que as pessoas que estão trabalhando, salvo raríssimas exceções, são muito educadas e pacientes. Porém, existem situações imponderadas em que o eleitor ao chegar se deparar com fila, com pessoas que têm dificuldades no trato com a tecnologia, que é muito simples por sinal. Aliás, se o cidadão pertence a algumas das classificações de analfabetismo, que inventaram para justificar a incompetência de alfabetizar, sente-se e tenha calma, pois, pode mudar seus planos de votar rapidamente.

O caso em questão foi de uma senhorinha, dos seus já vividos bons anos e que, pela aparência, com certeza estaria isenta desse ato cívico, foi ter-se com aquela máquina e ai é um tal de começa e para, refaz, quer chamar a filha, consultar o parente... A fila a se formar e o mesário a coçar a cabeça, levanta e senta várias vezes, disponibiliza a urna novamente, muito gentil cumprindo a disposição legal. Embora tivesse uma baita vontade de atender ao pedido de ajuda da senhorinha, dizia: Não posso, não pode... E por aí a fora.

Aquele um pé lá e outro cá, foi de água abaixo.

Aí começou a sobrar tempo para observar o ambiente, onde os compadres e comadres de plantão colocavam a prosa em dia, um verdadeiro ponto de encontro. Tudo sem esquecer que estávamos em uma sala de aula escolar cuja unidade oferece o ensino fundamental, médio e suas modalidades. Mesmo que o objeto ali não era esse, você começa a observar o espaço físico, até por que aquele embate do mesário com a senhorinha, não se mostrava por findar.

Um ambiente educativo degradante, carteiras em péssimo estado de conservação, armário sem portas, lousa trincada com textura que já não aceita mais o giz e paredes sujas. A porta então, quebrada com o miolo interno da madeira à mostra. Sem contar o piso, e as vidraças então, com vidros de diferentes texturas.

Fiquei a pensar, quem em sã consciência acha que alguém teria motivação para estudar em um ambiente desses oferecido aos jovens alunos do ensino fundamental e médio regular, adultos da EJA e por aí a fora, nos níveis e modalidades oferecidos.

Olá Isadora Faber do Diário de Classe, você deveria contaminar os alunos dessa escola, para saberem e defenderem que toda escola tem que ser um brinco.

Como o mesário havia pedido para a senhorinha ficar calma se não acabaria anulando o voto, a minha imaginação enquanto gestor educacional começou a fluir. Fiquei a perguntar: Serão todas as salas assim? Será uma sala isolada, daquelas reservadas para deposito? Não, a escola esta a pedir socorro.

Os alunos, pais e responsáveis, funcionários, direção, vivem em que mundo? Será que gostariam de ser atendido em ambiente como esse, em um shopping, magazine, banco, e outros espaços prestadores de serviços?

Período como esse, de eleições, é propício para rememorar e rever nossos conceitos de espaço educacional e repensar sobre aqueles que dizem defender a educação. Será que gostam mesmo da educação ou dos seus recursos?

Recebi recentemente o texto “Votar” da Raquel de Queiroz publicado pela Revista Cruzeiro, 11 de janeiro de 1947, que dizia “Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é assunto indiferente, é questão pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma noiva (o)”.

Senhor, senhor, senhor... O mesário a me chamar. Sua vez. Votei nas minhas convicções educacionais, embora, não sei se terei surpresas.

Você que não fez essa reflexão, por vários motivos, talvez tenha perdido uma oportunidade, mas quem for votar no segundo turno terá essa chance novamente. Se o seu local de votação for em uma escola, veja o seu entorno e faça reflexão. Os alunos que ainda não votam, agradecem.

(*) Doutor em Educação, professor, pesquisador, assessor e consultor em políticas de educação e sistemas educativos.

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