Parece óbvio mas não é...
Existimos enquanto profissionais da educação por que na escola tem aluno, caso
contrário, não existiríamos. Portanto,
pensar a organização da educação é imergir no cotidiano escolar.
O que ocorre hoje é que inúmeros
personagens acadêmicos, midiáticos e os tidos gurus da educação propõem soluções
idealizadas para outra época sobre a égide de outros fundamentos que não os atuais
nas escolas, portanto, sem sustentação. Essa visão é o que permeia pelas
Secretarias da Educação e no Ministério da Educação, em que esses personagens influenciam
a estrutura organizacional das escolas no país.
Enquanto a lógica da política
pública da educação deva ser estabelecida a partir das necessidades
educacionais da sociedade que a demanda, só será efetivada no ato de ensinar na
sala de aula por meio da relação professor-aluno. Portanto, é na estrutura
organizacional escolar que encontramos alguns dos atores mais importantes do
processo educacional: alunos, profissionais da educação e pais-responsáveis, ou
seja, a Sociedade e a Escola. No encontro desses atores nos dias de hoje,
observa-se um destoar de interesse entre eles, que a organização escola sente
dificuldades em equacionar.
A sociedade, representada pelos
pais e/ou responsáveis dos alunos, busca acesso pleno a educação em todos os
níveis e modalidades e com qualidade intangível, pois não têm clareza do que
espera receber, cabendo a escola definir a qualidade da educação a partir do
entendimento de que sociedade é essa contada por ela e não pelos muitos achismos
encontrados hoje.
Obter o perfil socioeconômico da
família do aluno é fundamental, ao início de todo ano letivo e de preferência
no ato da matrícula ou rematrícula, cujas informações contribuem para as várias
ferramentas do dia a dia da escola: Projeto Pedagógico (Plano de Ensino e de
Aula), Plano de Gestão e Regimento Interno. É de bom senso aproveitar o momento
para colher detalhes fisiológicos dos alunos e se houver condutas específicas como
está o acompanhamento, além do cotidiano da sua vida de cidadão.
Ao entrar nos meandros da escola
encontramos uma organização que passa a existir quando os órgãos vivos que a
compõem entram em cena, os profissionais da educação, aqui representados pelos
colaboradores docentes e não-docentes, que fazem as atividades meio e fim
acontecer. Estes têm que estar preparados para desvelar e implantar a forma de efetivar
o processo educacional que responda a demanda e exigências da sociedade em que
estão inseridos, identificadas no estabelecer do seu perfil.
Esse forma de gerir pode
significar para muitos, algo já realizado e resolvido no dia a dia da escola e
até abandono de fazer uso do perfil por não sentir significância. Ledo
engano... A partir das constatações de que sociedade é essa, a escola tem em
mãos quais as habilidades e competências que os profissionais de educação
precisam para desempenhar suas funções, que venha a colocar em prática o nível
de qualidade que está na expectativa da coletividade atendida.
Então, qual a formação necessária
para esses profissionais?
Para o profissional não-docente é
preciso um plano de carreira que foque as necessidades dos processos
educacionais, o perfil deverá ser evidenciado no ato de sua contratação, ficando
claro que profissional a escola precisa. Subindo na escala hierárquica até o
grupo gestor ou equipe gestora, vê-se que invariavelmente deixaram a docência
para assumir a promoção da nova função, ainda sem preparo para visão de que a
Organização Escola não é uma grande sala de aula, e que dependerá de
conhecimento de outras ciências, pois a pedagogia não dá conta de explicar o
que não se trata do processo de ensino-aprendizado. Entretanto o preparo do
profissional gestor chega de forma generalista sem contextualizar a realidade e
as adversidade da escola.
O beber na fonte de outras
ciências para entender os processos no dia a dia na escola, como forma de
potencializar as habilidades e competências dos profissionais ali presentes, é
fundamental, pois aponta o que deve ser buscado em suas formações. Vamos lá:
administração, contábeis, gestão de pessoas, economia, geografia, demografia,
sociologia, antropologia... só algumas para dar conta dos processos e atividade
meio que se apresentam hoje. Ficando estabelecido os conhecimentos que devem ser
exigidos nos cursos de extensão, aperfeiçoamento e nas pós lato e stricto
senso.
Passando ao profissional docente,
o agente da efetivação da política pública e responsável pelo
ensino-aprendizado, vamos nos deparar com uma situação problemática e não
equacionada nas formações de licenciados no Brasil. As Instituições Ensino
Superior na formação de professores não estão os habilitando para o perfil de egresso
que dê conta das necessidades educacionais da educação básica, neste caso, haja
vista que não é de praxe realizar pesquisar junto aos gestores das Secretarias
de Educação, para identificar as habilidades e competências necessárias ao
desempenho da atividade docente.
Da mesmo forma que a educação
carece de um currículo para educação básica, a formação dos docentes passa por
essa mesma situação. O reformular a formação do docente que dê conta das
diversidades impostas pelo modo como a sociedade vem se delineando, tem
mostrado que além das ciências apontadas, outras que avançaram no entendimento
fisiológico do ser humano devem ser evidenciadas, como a neurociência no
cognitivo e a psiquiatria...
Há de se considerar conceitos
científicos atualizados na formação do professor que o permita conhecer melhor
a criança e ao adolescente. Saber que apesar dos seus pouco anos de vida a
criança mesmo analfabeta funcional não o é tecnologicamente, pois já nascem
chipadas. E o que dizer do aluno adulto com o conhecimento já adquirido pela
vida? Só a Andragogia pode apontar os cuidados metodológicos e diferenciados
que a modalidade requer.
O perfil do profissional docente,
extraído a partir da miscigenação social que fundiu e funde a nossa sociedade dentro
desse amalgama plural que vamos buscar a forma de habilita-lo no trabalhar com
indivíduos díspares em uma mesma sala de aula. Situação já vivenciada pelo professor
da escola rural típica, com uma só sala de aula multisseriada que dava conta da
diversidade, mas que se perdeu com o passar dos anos ao pensar a educação para
educando tipo ideal.
Pois bem, pensar que na forma
como estão estruturados o Ministério da Educação e as Secretarias de Educação e
que esses possam fazer a transformação que venha de encontro às mudanças sociais
sentidas pelas escolas no estabelecer do perfil, está distante de acontecer sem
que passe pela reformulação da academia, pois sua forma de atuar é o reflexo e
ressonância em círculo vicioso dentro dessas estruturas.
Os idealizadores da estrutura
atual, são oriundos de um meio com autonomia e distante da realidade da
sociedade, postam como formadores de pensadores e apresentam seus cursos de licenciatura
e pós para docência generalista, e que de modo invariável estão a ocupar os
cargos de comando no Ministério da Educação e nas Secretárias de Educação.
Isso tudo é, no mínimo, destina
os agentes da política pública educacional ao infortúnio, vivendo do modelo
utilizado para educação de programas de governo, desvinculado de um Plano de
Estado, que ora tem e pois não se sabe se terá, aparentando por meio de maciça
publicidade à sociedade um certo volume de recursos. Mal sabem que não será
para todos.
Por fim, fica a disposição de que
não se pode macular e ofuscar objetivo de vidas que não são nossos, segregando
e estigmatizando o futuro de muitos, hoje aluno amanhã adulto desesperançado.
(*) É Doutor em Educação, professor, pesquisador,
assessor e consultor em políticas de educação e sistemas educativos.
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