sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A EDUCAÇÃO NO BRASIL NÃO TEM PROBLEMAS, SÓ SOLUÇÕES ADIADAS.


Fonte: Ismael Bravo*

O título busca parafrasear o escritor que tanto estudou a cultura brasileira e que esteve solto no tempo e nos cartazes que o enalteciam com a frase “O Brasil não tem problemas, só soluções adiadas”, atribuída ao maior historiador e pesquisador que o Rio Grande do Norte teve, e que o Brasil ainda está por conhecer a miúde, Luís da Câmara Cascudo, filósofo, escritor, jornalista, professor e amante da cultura popular. Em busca de conhecer o povo brasileiro, Câmara Cascudo dizia: "Queria saber a história de todas as cousas do campo e da cidade. Convivência dos humildes, sábios, analfabetos, sabedores dos segredos do Mar, das Estrelas, dos morros silenciosos...”

Por conhecer a alma e a forma de como a sociedade se organizava, Câmara Cascudo contribuiu para entendermos o que se passa hoje, em pleno século XXI, sobre as observações feitas no velho sertão lá pelos idos de 1910, em que a questão educacional não formal tinha um forte apelo à realidade posta e pela situação imposta ao isolamento de algumas comunidades, por outro lado, nas capitais as influencias fortes vinham da Europa. Essa caracterização mostra a preocupação com a universalização, vinda do além-fronteiras, em que todos usam os mesmos métodos independentes da realidade local, sem levar em consideração a contextualização da sociedade em seu território.

Ao longo do século XX tivemos a oportunidade de vivenciar o afloramento da leitura social do povo brasileiro nas ciências sociais, aplicadas, humanas e outras áreas do conhecimento, desenvolvidas por nossos grandes pensadores, porém, não foram incorporadas ao modelo atual de educação que permeia as intenções governamentais, por questões inúmeras, que não cabe aqui discorrer, talvez ideológica, quem sabe.

Há quem julgue que as intenções governamentais estão intimamente ligadas à necessidade do país em acelerar e ganhar em grande escala de desenvolvimento, firmando-se no cenário internacional ao mostrar e demonstrar sua força econômica. Outros mais singelos defendem estar naturalmente na globalização o provocar pela busca de modelos educacionais. Ou, será um pouco de cada?

Mesmo com toda a base teórica e prática necessária para realizar uma educação de qualidade, não podemos perder de vista o conceito de Glocalização, ou seja, de ser global sem perder as características locais.  Assim sendo, há de se evidenciar que os fenômenos globais não devam ser o fato que venha a justificar a falta de disseminação e adoção dos métodos e metodologias educacionais de sucesso desenvolvidas e aplicadas no Brasil, adiando o desenvolvimento da educação com bases na realidade nacional.
O ser global é tão forte e presente em nosso dia a dia, que não se pode negar, faz parte das características humanas o intercâmbio de conhecimento, nos tempos atuais mais ainda, com o acesso em tempo real dos desenvolvimentos de grupos de pesquisa ao redor do mundo.

Constamos que isso é verdade, pois hoje há programas de governo enviando nossos filhos ao redor do mundo na busca de novos conhecimentos, medida louvável, desde que por traz dessa ação tenha um projeto de estado que dê guarida para que esse investimento social seja incorporado a nossa realidade. Há de se ter, porém, o devido cuidado em não repetir os senhorios quando enviavam seus rebentos para estudo na Europa como forma de evidenciar as referências e posicionamento social, muitas vezes inócuo ao desenvolvimento do país.

À parte a tudo isso e tão importante quanto, devemos ressaltar que de forma heterogênea já existe educação de qualidade no país, constada pelos indicadores educacionais e histórico exigido que define a presença desses nossos alunos no exterior, cuja  educação básica lhes proporcionaram embasamento para realizar seus estudos.

Deparamos com a evidência de que os caminhos para equacionar a educação básica são fortes o suficiente para transformar a realidade do país. Eureca, então temos o formato e modo de como mudar os resultado educacionais obtidos internamente como foco e modelo a ser seguido derivado da fundamentação e dos trabalhos de nossos profissionais da educação e que deveriam estar sendo disseminados em todo território nacional, certo?

Então Câmara Cascudo esteve sempre com razão, nos não temos problema, só soluções adiadas, haja vista que nosso patrono, Mestre Paulo Freire dizia, “têm-se todas as metodologias necessárias, é preciso coloca-las em prática”.

(*) Doutor em Educação, professor, pesquisador, assessor e consultor em políticas de educação e sistemas educativos.

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