quarta-feira, 21 de novembro de 2012

EXCEÇÃO REINANTE ATINGE EM CHEIO A EDUCAÇÃO


Fonte: Ismael Bravo*

Como setor da sociedade que depende essencialmente da compreensão e dos conteúdos das ciências sociais, a educação sofre com atual situação de exceção reinante no cotidiano das unidades educacionais.

Poderíamos apontar algumas linhas de ações na direção do entendimento das questões sociais no âmbito da educação, mas duas são as questões prementes, uma tem primazia e deve ser contemplada no currículo com seu aporte necessário na formação dos profissionais da educação, a outra e tão importante quanto a anterior, se trata da legitimidade do comportamento social que se estabelece na forma como a sociedade se organiza e se dispõem enquanto demandador dos aparelhos sociais.

Vamos nos ater às questões de ordem social que, por consequência, pode e deve contribuir à formação profissional, começando pelo entendimento do que venha a ser a educação e o seu papel. Lembrando que até algumas décadas a sociedade interagia com seus membros cobrando a educação que sua família proporcionou, lembram? Hoje, a posição mudou significativamente e de ordem, ou seja... Que educação a sua escola está lhe proporcionando?

Esse modo de agir e pensar não encontra amparo nos objetivos organizacionais que sustentam os princípios básicos da educação, o de proporcionar a educação estritamente formal. Tomava-se como partido e principio, até então, que as questões básicas de valores e moral dos alunos já chegassem às escolas bem resolvidas.

Em contrapartida, o que invariavelmente se depara é com um comportamento às avessas, que nós levamos a crer que a formação não formal, aquela em que a família transmitia à criança, por delegação passou a ser da escola, ou seja, toma aí que o filho é teu e pego depois de formado. Será que é assim? Ou, assim será?

A nossa sociedade vem se utilizando da razão para legitimar o seu poder de forma instrumental, tornando-se parte fundamental de criação de uma cultura de racionalização que acompanha a civilização humana em estabelecer novas regras político-jurídica. Se a sociedade mudou ou está a mudar de comportamento por delegar o ato de educar à instituição escola, temos assim configurado um estado de exceção, em que a forma de solução de possíveis litígios e conflitos passa a negar a própria regra, existente e entendida.

Torna-se eficaz e legítimo descumprir as regras básicas e iniciais ou cumprir parcialmente a legislação, só tendo importância aquilo que são os direitos, que é o comportamento social presente, esquecendo e se fazendo vistas grossas aos deveres, configurando aí a exceção.

Só para provocar, veja o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, muito se falou e capitalizou politicamente em busca do atendimento dos direitos e esqueceram-se dos deveres ali contemplados. Buscando pela data de sua publicação 27 de setembro de 1990 temos uma geração com em torno de 20 a 30 anos de idade que são frutos desse suporte legal. Com isso, não fica difícil identificar na sociedade a fisiologia dos atuais atores sociais que são marcantes na exceção da ordem reinante.

De um modo geral a exceção tem-se confirmado como força oponível à sociedade e à legitimidade democrática, algo como Vinício Carrilho Martinez e Marcos Del Rio em “Estado de Exceção Permanente e Global”, discorrem como: Corresponde à dominação racional-legal levada às últimas consequências. O Estado de Exceção corresponde ao mais moderno e espetacular formato de organização e de centralização legítima (legal) do poder soberano.

Martinez e Del Rio pontuam como sendo a sensação que proporciona um massivo sentimento de impotência, simplesmente, porque deixa de ser verdade que só é verdadeiro, o que é verdade para todos. Seu tempo é o do presente-transitório: efemeridade, transitoriedade. Impõem-se pela violência, nutrindo-se da corrupção (real e de sentidos).

Esse comportamento e forma de agir que se mostra na sociedade devem estar na pauta das discussões dos conteúdos educacionais no que tange ao currículo de formação dos profissionais, no Projeto Político Pedagógico – PPP e no modo de gestar as organizações educacionais.  

Pensando sempre que os caminhos estão aqui nesse manancial miscigenado cultural educativo do povo brasileiro, sem a necessidade dos modelos além-fronteiras. Elucido ainda esta situação em Drummond quando diz: Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação. Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.

(*) Doutor em Educação, professor, pesquisador, assessor e consultor em políticas de educação e sistemas educativos.

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