Fonte: Ismael Bravo*
Como setor da sociedade que
depende essencialmente da compreensão e dos conteúdos das ciências sociais, a
educação sofre com atual situação de exceção reinante no cotidiano das unidades
educacionais.
Poderíamos apontar algumas linhas
de ações na direção do entendimento das questões sociais no âmbito da educação,
mas duas são as questões prementes, uma tem primazia e deve ser contemplada no
currículo com seu aporte necessário na formação dos profissionais da educação,
a outra e tão importante quanto a anterior, se trata da legitimidade do
comportamento social que se estabelece na forma como a sociedade se organiza e
se dispõem enquanto demandador dos aparelhos sociais.
Vamos nos ater às questões de
ordem social que, por consequência, pode e deve contribuir à formação
profissional, começando pelo entendimento do que venha a ser a educação e o seu
papel. Lembrando que até algumas décadas a sociedade interagia com seus membros
cobrando a educação que sua família proporcionou, lembram? Hoje, a posição
mudou significativamente e de ordem, ou seja... Que educação a sua escola está
lhe proporcionando?
Esse modo de agir e pensar não
encontra amparo nos objetivos organizacionais que sustentam os princípios
básicos da educação, o de proporcionar a educação estritamente formal. Tomava-se
como partido e principio, até então, que as questões básicas de valores e moral
dos alunos já chegassem às escolas bem resolvidas.
Em contrapartida, o que invariavelmente
se depara é com um comportamento às avessas, que nós levamos a crer que a
formação não formal, aquela em que a família transmitia à criança, por
delegação passou a ser da escola, ou seja, toma
aí que o filho é teu e pego depois de formado. Será que é assim? Ou, assim
será?
A nossa sociedade vem se utilizando da
razão para legitimar o seu poder de forma instrumental, tornando-se parte
fundamental de criação de uma cultura de racionalização que acompanha a
civilização humana em estabelecer novas regras político-jurídica. Se a
sociedade mudou ou está a mudar de comportamento por delegar o ato de educar à
instituição escola, temos assim configurado um estado de exceção, em que a forma
de solução de possíveis litígios e conflitos passa a negar a própria regra, existente
e entendida.
Torna-se eficaz e legítimo descumprir as regras
básicas e iniciais ou cumprir parcialmente a legislação, só tendo importância aquilo
que são os direitos, que é o comportamento social presente, esquecendo e se
fazendo vistas grossas aos deveres, configurando aí a exceção.
Só
para provocar, veja o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, muito se falou
e capitalizou politicamente em busca do atendimento dos direitos e
esqueceram-se dos deveres ali contemplados. Buscando pela data de sua
publicação 27 de setembro de 1990 temos uma geração com em torno de 20 a 30
anos de idade que são frutos desse suporte legal. Com isso, não fica difícil
identificar na sociedade a fisiologia dos atuais atores sociais que são
marcantes na exceção da ordem reinante.
De
um modo geral a exceção tem-se confirmado como força oponível à sociedade e à
legitimidade democrática, algo como Vinício Carrilho Martinez e Marcos Del Rio
em “Estado de Exceção Permanente e Global”, discorrem como: Corresponde à dominação racional-legal levada às últimas consequências. O
Estado de Exceção corresponde ao mais moderno e espetacular formato de
organização e de centralização legítima (legal) do poder soberano.
Martinez e Del Rio pontuam como sendo a sensação que proporciona um massivo sentimento de impotência, simplesmente, porque
deixa de ser verdade que só é verdadeiro, o que é verdade para todos. Seu tempo
é o do presente-transitório: efemeridade, transitoriedade. Impõem-se pela
violência, nutrindo-se da corrupção (real e de sentidos).
Esse
comportamento e forma de agir que se mostra na sociedade devem estar na pauta
das discussões dos conteúdos educacionais no que tange ao currículo de formação
dos profissionais, no Projeto Político Pedagógico – PPP e no modo de gestar as
organizações educacionais.
Pensando
sempre que os caminhos estão aqui nesse manancial miscigenado cultural
educativo do povo brasileiro, sem a necessidade dos modelos além-fronteiras.
Elucido ainda esta situação em Drummond quando diz: Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta
situação. Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem
pra fazer.
(*) Doutor em Educação,
professor, pesquisador, assessor e consultor em políticas de educação e
sistemas educativos.
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